martes, 28 de octubre de 2008

Roberto Fernandez Retamar e a cultura da revolução

Poeta, ensaísta, brilhante intelectual, Retamar sintetiza o debate cultural no processo revolucionário cubano. Nascido em 1930, aderiu desde sempre à revolução e esteve à frente de importante esforços para a construção do esforço intelectual no contexto de transição. Foi fundador da União de Escritores e Artistas Cubanos, da Revista Casa de las Américas (que dirigiu por vários anos) e do Centro de Estudos Martianos. Esteve portanto, desde o início no meio do furacão, de onde inclusive preparou uma interessante resposta ao clássico texto do Che, "O socialismo e o homem em Cuba", que não chegou ao destinatário e só recentemente foi publicada.

E, sendo o processo cubano em boa medida uma síntese da cultura indolatinoafromestiçoamericana, Retamar é sem dúvida um interlocutor privilegiado de suas melhores expressões e contradições, bem como de sua inevitável interseção com a política, como se pode notar nas cartas de Cortazar e do jornalista também argentino Rodolfo Walsh.

Ouvi seu nome pela primeira vez quando reproduzimos no GEAL da ESS/UFRJ o curso que ele dera no Clacso (que resultou neste livro), sobre o pensamento de nuestra america. Recentemente, a leitura de seu histórico ensaio Todo Caliban gerou impacto imediato, não só por encontrar-se com uma série de inquietações que vêm se acumulando na árdua tarefa da escrita, mas pela impresionante força ao mesmo tempo interpretativa e militante de sua leitura da colonialidade constitutiva da condição americana e a perspectiva teórico-política a ser adotada diante desse dilema.

Ia emendar aqui uns comentários sobre o texto, mas este post fica como uma introdução. Depois volto à carga com uma resenha desse texto impressionantemente criativo e provocante.



EL OTRO

Nosotros, los sobrevivientes,
¿A quiénes debemos la sobrevida?
¿Quién se murió por mí en la ergástula,
Quién recibió la bala mía,
La para mí, en su corazón?
¿Sobre qué muerto estoy yo vivo,
Sus huesos quedando en los míos,
Los ojos que le arrancaron, viendo
Por la mirada de mi cara,
Y la mano que no es su mano,
Que no es ya tampoco la mía,
Escribiendo palabras rotas
Donde él no está, en la sobrevida?

1 de Enero de 1959

domingo, 19 de octubre de 2008

Diálogos imaginários, com pareceres musicais definitivos, que realmente aconteceram, parte 2


01:44 EM: conoces "rock rocket"?
01:48 GC: não... referências?
01:49 EM: banda paulista, integrantes de cerca de 25 anos, que bebe até ficar bêbado na fonte de ramones

12 minutos
02:02 GC: ficar bêbado com ramones nem é o mais dificil...

Diálogos imaginários, com pareceres musicais definitivos, que realmente aconteceram, parte 1

GC: tava ligado no roncaronca?
00:53 EM: não
acabei de chegar em casa
foi maneiro?
00:55 GC: perdeu husker du!!!!!!!!!!
EM: porrrraaaaa!!!!
00:56 vou ouvir na net
GC: apresentada como uma das bandas mais pedidas delos ouvintes na rua
tocou só uma musiquinha,
mas tem enorme valor simbolico, não?
EM: claro
00:57 husker du é como os bons vinhos do porto, é pra ser apreciado em doses homeopáticas

Muita emoção esse cartaz, dois dias depois de meu natalício!!! Mais estética punk aqui (há muita coisa por aí, mas já estorou minha paciência pra uma busca mais detalhada agora...).

P.s.: Please, no royalties meu caro. Encare como um incentivo para avançarmos nos pitacos musicais. E viva o copyleft!!!

viernes, 17 de octubre de 2008

A sabedoria dos velhos comunistas

Nada mal estrear as incursões políticas com o comentário do mestre Saramago (até ele tem um blog!). Subscrevo plenamente seu questionamento, especialmente se traduzido para Pindorama - assunto a ser retomado.

Retirado de http://caderno.josesaramago.org/2008/10/01/onde-esta-a-esquerda/

Onde está a esquerda?

Ausento-me deste espaço por vinte e quatro horas, não por necessidade de descanso ou falta de assunto, somente para que a última crónica se mantenha um dia mais no lugar em que está. Não tenho a certeza de que o mereça pela forma como disse o que pretendia, mas para lhe dar um pouco mais de tempo enquanto espero que alguém me informe onde está a esquerda…

Vai para três ou quatro anos, numa entrevista a um jornal sul-americano, creio que argentino, saiu-me na sucessão das perguntas e respostas uma declaração que depois imaginei iria causar agitação, debate, escândalo (a este ponto chegava a minha ingenuidade), começando pelas hostes locais da esquerda e logo, quem sabe, como uma onda que em círculos se expandisse, nos meios internacionais, fossem eles políticos, sindicais ou culturais que da dita esquerda são tributários. Em toda a sua crueza, não recuando perante a própria obscenidade, a frase, pontualmente reproduzida pelo jornal, foi a seguinte: “A esquerda não tem nem uma puta ideia do mundo em que vive”. À minha intenção, deliberadamente provocadora, a esquerda, assim interpelada, respondeu com o mais gélido dos silêncios. Nenhum partido comunista, por exemplo, a principiar por aquele de que sou membro, saiu à estacada para rebater ou simplesmente argumentar sobre a propriedade ou a falta de propriedade das palavras que proferi. Por maioria de razão, também nenhum dos partidos socialistas que se encontram no governo dos seus respectivos países, penso, sobretudo, nos de Portugal e Espanha, considerou necessário exigir uma aclaração ao atrevido escritor que tinha ousado lançar uma pedra ao putrefacto charco da indiferença. Nada de nada, silêncio total, como se nos túmulos ideológicos onde se refugiaram nada mais houvesse que pó e aranhas, quando muito um osso arcaico que já nem para relíquia servia. Durante alguns dias senti-me excluído da sociedade humana como se fosse um pestífero, vítima de uma espécie de cirrose mental que já não dissesse coisa com coisa. Cheguei até a pensar que a frase compassiva que andaria circulando entre os que assim calavam seria mais ou menos esta: “Coitado, que se poderia esperar com aquela idade?” Estava claro que não me achavam opinante à altura.

O tempo foi passando, passando, a situação do mundo complicando-se cada vez mais, e a esquerda, impávida, continuava a desempenhar os papéis que, no poder ou na oposição, lhes haviam sido distribuídos. Eu, que entretanto tinha feito outra descoberta, a de que Marx nunca havia tido tanta razão como hoje, imaginei, quando há um ano rebentou a burla cancerosa das hipotecas nos Estados Unidos, que a esquerda, onde quer que estivesse, se ainda era viva, iria abrir enfim a boca para dizer o que pensava do caso. Já tenho a explicação: a esquerda não pensa, não age, não arrisca um passo. Passou-se o que se passou depois, até hoje, e a esquerda, cobardemente, continua a não pensar, a não agir, a não arriscar um passo. Por isso não se estranhe a insolente pergunta do título: “Onde está a esquerda?” Não dou alvíssaras, já paguei demasiado caras as minhas ilusões.

This entry was posted on Outubro 1, 2008 at 8:29 am

Novos rumos

Após o fim da jornada extraordiária, já me questionava se o blog teria sobrevida em tempos de massacre burocrático do cotidiano. Então, o clamor das massas... digo, o apoio instigante do velho e sábio camarada Homo Luddens, registrado nos comentários e indicado aí ao lado, me levou a dar novo alento à empreitada. Esses provocadores... Sempre conspirando para ampliar o raio de intervenção dos distúrbios psicossociais!!!

Enfim, um pouco por inquietação, um pouco por provocação, resolvi dar um fôlego para esse espaço. Além de ensaiar uma primeira reviravolta no layout, tentarei diversificar temas e abordagens. Literatura, política, sexo, cinema, música, artes, revolução, delírios, "tudo o que é humano me interessa", não necesariamente nessa ordem e de preferência se pudermaos arriscar algumas experimentações teóricas e formais que demandariam um outro comprometimento em outros espaços.

Voilá! A ver até onde vamos com tudo isso...


Homo Luddens, Luther Blisset, Gregorio Corso, Wu Ming, Capitão Swing:
o que quer essa gente?
Para saber, clique na foto.



miércoles, 15 de octubre de 2008

Receita anti-stress



Fodaralho o trabalho desse maluco, clicando na imagem tu vê mais. Acompanho desde os tempos da mitológica "Deus é Pai", a série banida da MTV por Dom Eugenio Sales. Aliás, esse também foi banido, pois era pra ser um cartão virtual...

miércoles, 8 de octubre de 2008

Uma perspectiva inusitada das cidades.

Desde os tempos em que mergulhei no universo de The Doors tenho alguma curiosidade por tumbas históricas.


Não se pode dizer que é uma mania, mas digamos que o universo relacionado à morte é sempre instigante. Para o olhar de historiador, por exemplo, é curioso pensar tanto no contexto social de determinadas épocas que é em boa medida refletido nos cemitérios, como colecionar histórias pitorescas nas quais vultos históricos continuam influenciando o presente (vide os casos Lenin ou Evita Perón)


Pois passa que um pouco por coincidência, um roteiro obrigatória nessa viagem acabaram sendo os cemitérios. Em Buenos Aires porque estavamos alojados no bairro de Recoleta, onde o cemitério é um ponto turístico e em Lima porque era obrigação da legião mariateguista ali reunida fazer uma romaria ao mausoléu do Amauta.


Recoleta é um lugar bem louco, pois trata-se de um bairro nobre, com o cemitério encravado no meio da região de bares e agitação noturna. Estivemos rodando entre as ruelas mórbidas por algumas horas, entre o fascínio e o enjôo que o ambiente provoca. Algumas são realmente impressionantes, parecem capelas luxuosas ou mini-catedrais. Vê-se sempre o esforço em expressar ali a imponência da família, sendo um lugar reservado às de pendor aristocrático, pois não há sequer uma parede daquelas com lápides empilhadas, só mausoléus. Assim há alguns mais “simples” e outros de mármore do chão ao teto. É claro que também se podia ver casos de famílias falidas, com os espaços totalmente abandonados, em ruínas. Pegamos um trecho da visita guiada por um velho ultra-conservador, que como todas visitas guiadas, é meio chata de ficar acompanhando, mas nesse caso foi interessante porque chamava atenção para alguns detalhes que nos passariam despercebidos. Como o da escultura feita de um único bloco de mármore de uma menina de uns 9 anos que morreu de tubérculos e aparece sendo levada por um anjo (ou anja?). Entre os famosos, encontramos Evita Perón, Sarmiento e alguns “herói nacionais” cheios de placas comemorativas.




Em Lima, o cemitério fica numa zona mais periférica, parece que nos limites da Lima colonial. Recentemente foi divido em 3 partes, se entendi bem. Uma é a mais histórica, com mausoléus e as construções mais imponentes. Ganhou status de museu e só pode ser visitada com autorização de um determinado órgão. Mas desenrolamos com um rapaz que fazia a guarda local e ele deixou irmos apenas à tumba de Mariátegui. É uma pedra, com algumas insrições, coisa bem simples. Ficamos ali alguns minutos e fomos visitar o pai de um amigo que nos acompanhava, um velho militante do PC em Arequipa (não o amigo, seu pai). Está na outra parte, que é toda mais simples, embora também tenha covas de tempos coloniais pelo que foi mencionado. O que seria a terceira parte, parece que a mais popular, está separada por uma avenida. Saímos dali e passando novamente pelo túmulo de Mariátegui, ainda vi um grupo grande de jovens visitando-o. Dali fomos atrás da procissão que não encontramos e acabamos trocando pela perdição da última noite em Lima.



O saldo dessas incursões foi positivo, pois além dos sustos e sobressaltos, saímos com um olhar peculiar das cidades e mais algumas histórias cabulosas de cemitérios.

Como a de um estudante argentino que, vivendo em Londres, saía regularmente do trabalho e sentava-se com uma caneca de café ao lado da tumba de Marx pra pensar na vida ou sabe-se lá no que mais. Ou a do próprio Mariátegui, conhecida de todos ali presentes, que em seus tempos de boêmia juvenil juntou-se com uns amigos a tocar a marcha fúnebre para a dança erótica da bailarina russa Norka Rouskaia, uma maneira bem heterodoxa de comemorar a revolução, que escandalizou a católica aristocracia limenha.


Quem quiser, pode preparar aqui o seu próximo roteiro mórbido, podendo inclusive partir de trajetos mais próximos.

lunes, 6 de octubre de 2008

Back to black

Depois de uma intensa jornada acadêmico-cultural-etílica-gastronômica por Lima, estou de volta ao lar, ao trabalho, à rotina, à expectativa de novas odisséias. Vamos ver se esta empresa blogueira, criada em contexto tão peculiar, persiste em tempos ordinários ou se vira apenas mais um amontoados de bytes a entupir a cyberlixeira.

Os dois dias do evento foram bem intensos, em todos os sentidos. No primeiro, foi um choque, pois logo vimos que a coisa era bem diferente do que esperávamos. Muita formalidade, muita dondoquice, muita coisa nada a ver. Algumas boas apresentações, mas sem espaço para o debate. O melhor, como qualquer evento dessa espécie, apareceu nos bastidores. Conhecemos uns tipos bem interessantes, descobrimos alguns podres da mítica aristocracia limenha, abrimos alguns espaços de intercâmbio.

Apresentei meu trabalho na sexta à tarde e, tomado de desespero pela pompa da circunstância tive certeza que fora minha pior apresentação em público, incluindo todas as aulas; sentia calor e queria me esconder embaixo da mesa... Falei em castelhano, tentando ser sintético e devagar. No final, os amigos elogiaram e alguém definiu como “simpática” a minha ponencia, que pela reação dos demais, essa parece ter sido mesmo a impressão que deixou. Do Simpósio propriamente dito, ficou um quadro (um tanto melancólico) da cena mariateguista atual, pois boa parte dos trabalhos era meramente laudatório ou transcendia para uma metafísica hermenêutica pós-moderna; ambos casos totalmente alheios a seu espírito.



Cenário montado

Por outro lado, formamos ali um grupo interessante que estendeu, pelas tardes e madrugadas que nos restaram, as discussões teórico-políticas, as andanças boêmias e as degustações gastronômico-etílicas. Modéstia à parte, muito mais afins ao legado do mestre que unia a todos ali. Assim houve um primeiro encontro na quinta, dia em que começou o evento, quando conhecemos um muchacho equatoriano muito buena onda e um professor da San Marcos loquíssimo. Sexta integrou-se um já velho amigo vindo de Cuzco e outras pessoas no caminho até chegarmos ao porre antológico de sábado, quando passamo o dia juntos, fomos à tumba de Mariátegui, tentamos achar a procissão do Senhor dos Milagros mas não encontramos e fomos parando de bar em bar, provando algumas especiarias da culinária de botecos limenhos, até chegar a um ponto em que passei a reter apenas algumas seqüências de vozes, odores, imagens e sabores na memória para enfim um táxi me despejar no hotel. Umas horas depois estava acordando para jogar tudo na mochila e partindo a galope para o aeroporto – um galope que quase me derruba de vez.

Mariateguistas preparando-se para incendiar Lima

miércoles, 1 de octubre de 2008

Vuelvo al sur...


Postagem pra ser lida com Trilha Sonora


Depois do sucesso estrondoso do lancamento do blog, que em poucas horas recebeu.... Esperai, deixa eu dar uma ultima checada... Recebeu 3 comentários e ainda um convite oficioso pra me integrar á equipe de blogueiros de um importante conglomerado informativo que por enquanto nao posso revelar o nome. Bem, depois desse sucesso inquestionavel me senti motivado em atender meu público (opa, menos, assim o ego nao vai caber nos servidores do blogspot)... Enfim, esse treco é meio viciante, principalmente quando estamos comecando e distantes dos entes queridos, entao vou ingressar um pouco no que ja sao as memorias das andancas portenhas.


Isso pq o dia aqui foi mas tranquilo, chegou a Mariela, amiga do mestrado que tambem vai participar do Simposio, caminhamos um pouco pelo centro, eu aluguei demais o ouvido dela depois de estar desde domingo apenas ruminando os pensamentos sem quase ninguem pra conversar - ninguem em portugues -, agora estamos na expectativa total pro evento. Bem, a outra novidade por aqui é que descobri que o evento cobre alem da hotel, a alimentacao no proprio, assim que o esquema aqui é mais esquemoso do que eu pensava...


Bem, como eu ia dizendo em algum lugar, Buenos Aires foi uma jornada bem intensa, perdon mas o cliche é inevitavel, ¨no compasso de um tango¨. Nao sei se a cidade tem um ponto alto, mas pra nos a onda foi caminhar, caminhar e caminhar. Ir sentindo o clima dos diferentes bairros e desde aí ter como um panorama muito particular do que é essa terra. Assim que acho que a melhor forma de relatar nossa passagem por la é reproduzindo um pouco desse mosaico, ao invés de publicar aqui um diário. Até porque nós eramos ali turistoes num minuto e totalmente porteños no minuto seguinte, amantes e logo inimigos fidagais, sociologos analisando a dinamica daquela polis e em seguida bebados apenas preocupados em encher a cara de carne e de vinho. E as vezes tudo isso e algo mais ao mesmo tempo.



Sente a intensidade da coisa


Una ciudad muy buena onda: climinha no subte, más allá del tango...



Com o início do evento o blog entra em recesso. Talvez sabado haja tempo para um resumao, senao depois que voltar vou lancando uns drops dessa travesia, ¿are you experienced?