Se alguém quiser ousar chamar isso de poema, fique à vontade. Ficarei lisonjeado... Eu considero apenas uma enxurrada de idéias que me vieram à cabeça uns anos atrás quando vi que na mesma data morreram Zumbi (há mais de 300 anos) e Franco (há 30). A relação que consegui fazer foi essa.
PS.: Relendo, só posso dizer que como poeta não passo de um historiador medíocre... :-( Ainda assim, ouso publicar.
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20 de novembro de 2005
(ao som de mundo livre s/a – a banda que junta Jacob do Bandolim com Noam Chomsky)
Paris arde, Recife é demolida,
El Alto espera,
Madri queima, Catalunha recorda
Durruti e Zumbi, hoje é nosso dia
Dandara e Pasionaria, hoje é nosso dia
Dia de comemorar as vitórias do povo
Dia de celebrar a resistência
Dia de lembrar que todos os tiranos passam
e que os fascistas "Não Passarão"
Franco apodreceu e é apenas uma incômoda nota de rodapé no lixo da história
Os ditadores brasileiros não colheram as glórias de sua “Redentora”
E os torturadores daquele período
Circulam feito ratos pela cidade, com medo da própria sombra
E ressentidos por não terem seu trabalho reconhecido
Quase todos eles
João Paulo II apodreceu e definhou ao vivo, via satélite
Pinochet apodrece e precisa se declarar demente
Saddam é prisioneiro de seus mestres
Rei Juan Carlos, Bush, Blair, Berlusconi, Chirac, Lula, Uribe esse é o seu futuro
Vocês têm que se esconder ou ser escondidos
Se desculpar ou que alguém peça desculpas por vocês
Pois sua memória é só ultraje
Nós não precisamos esconder os nossos, nem nos desculpar
Quem tem vergonha de dizer que ama o Che?
Apenas recolhemos os mortos (quando é possível)
E voltamos a lutar pelo novo mundo
Que eles tanto tentam sempre destruir
O Brasil de hoje é filho de Domingos Jorge Velho
A Espanha hoje é filha de Torquemada
O Brasil hoje é a cara de Castello Branco, Costa e Silva, Emílio Médici, Geisel
A Espanha hoje é a cara de Francisco Franco (por baixo do orgulho globalizado)
Lá e aqui a mediocridade reina
Com Telefônica e Dívida Externa,
O monarquista Real Madri e nosso futebol privatizado
Banco Santander e Banco do Brasil,
Repsol e Petrobras,
PP, PSOE, PT, PSDB,
Guarda Civil, PM...
Lorca nos deixou a vida, Franco deixou a vergonha
Drummond nos deixou a esperança, Golbery deixou o FMI
Neruda nos deixou seus versos, Pinochet deixou o genocídio
Sandino nos deixou a poesia, Somoza deixou a miséria
Os montoneros nos deixaram as Madres, Videla deixou os desaparecidos
José Martí nos deixou a revolução, Batista... quem foi Batista?
Bolívar nos deixou a unidade, Uribe traz a guerra e a submissão
Toussaint nos deixou a liberdade, liberdade que os nossos governantes querem negar ao Haiti
Criatividade, alegria, dignidade, paixão, solidariedade e vida estão submersas
Perdidas em algum lugar da memória
E no grito do sem-terra e no choro da sem-teto e na correria do camelô e na irreverência da estudante
E no ódio incendiário do imigrante e nas rugas de quem não abandonou a luta
E no desafio do jovem neto de anarquistas que hoje ocupa uma casa em Barcelona
Sempre há alguém que teima em recuperá-las
O Brasil dos cabanos ainda vai chegar
A Espanha de Andres Nin e do internacionalismo ilimitado ainda vai renascer
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